O deputado federal Delegado Waldir, o campeão de votos das últimas eleições, vai mesmo deixar o PSDB, partido pelo qual foi eleito. Ele fez o anúncio ontem, ao Diário da Manhã, durante visita à Redação. A desfiliação ainda não está formalizada, mas a coisa já está decidida. Waldir, que queria ser candidato a prefeito de Goiânia pelo PSDB, já remeteu carta à Comissão Executiva Municipal do partido retirando seu nome da lista de pré-candidatos que, no próximo dia 21, disputarão em eleições prévias a indicação do partido para concorrer a prefeitura este ano.
Na carta, o deputado expõe suas razões. Entre outras ( vide carta abaixo), ele afirma que o governador Marconi não cumpriu o compromisso de fazer dele o candidato oficial do PSDB. Waldir disse ao Diário da Manhã que foi procurado pelo governador no dia seguinte ao primeiro turno da eleição passada. Segundo Waldir, Marconi pediu, sem seu favor, o empenho do deputado eleito, sobretudo em Goiânia, onde alcançou expressiva votação. Marconi teria, segundo Waldir, assumido o compromisso de respaldar a pretensão do deputado eleito de ser candidato a prefeito pelo PSDB. “Marconi fez o compromisso comigo”, iniste Waldir.
O fato é que Marconi em momento algum se comprometeu com a pretensão do deputado Delegado Waldir. Em face do surgimento de outras postulações, o governador preferiu não intervir diretamente no assunto. Deixou aos órgãos dirigentes do partido o encaminhamento da questão. E o partido optou por entregar a decisão final às chamadas “bases”, ou seja, aos filiados. Serão eles que, mediante voto secreto, escolherão entre Giuseppe Vecci e Anselmo Pereira, os nomes remanescentes.
“Percebi que a minha pretensão não seria atendida”, explicou Valdir. Ele contava ter seu nome imposto pelo governador ao partido com base em dois fatos: foi recordista de votos em Goiânia; aparece em pesquisas de intenção de voto a que teve acesso como o favorito do PSDB. Segundo essas pesquisas, diz Valdir, seu nome seria o mais competitivo do PSDB.
Mas os critérios do PSDB para escolha de candidato são outros. Waldir explica que não topou ir às prévias por não ver a menor possibilidade de êxito neste campo de luta. Novato no PSDB, ele foi à luta eleitoral com estrutura própria, não chegou a participar do processo de construção partidária. Nunca filiou ninguém ao partido. De resto, acha que a lista de votantes está eivada de vícios. Após avaliar suas possibilidades, concluiu que o melhor seria romper com o partido pelo qual foi eleito e tentar a sorte em outra legenda.
Pelas regras eleitorais vigentes, Valdir só poderia ser candidato a qualquer coisa pelo PSDB. Exige-se pelo menos um anos de filiação a um determinado partido para obter registro de candidato. A menos de um ano da eleição. Desfiliando-se do PSDB Waldir estaria fora do pleito. Mas ele informou que nesta próxima quinta-feira será promulgada emenda constitucional alterando a regra vigente. O novo dispositivo constitucional criará uma “janela” de tempo. Por ela será possível a políticos em situação como a de Waldir candidatar-se prefeito por outra sigla.
Seguro de que, do ponto de vista jurídico, sua situação está normal. Waldir agora estuda convites de outros partidos para ser o candidato a prefeito. Ele informa que recebeu convites de todos os partidos “exceto do DEM e das legendas de esquerda”. Está avaliando, juntamente com sua pequena equipe de auxiliares, qual será o caminho a seguir.
Enquanto isso, ele vai prosseguindo em suas atividades pre-eleitorais. “Estou andando pelas ruas de Goiânia, ouvindo os cidadãos”, afirma. Ele diz que é, de todos os candidatos ( à exceção de Íris), o que mais conhece a cidade. Não apenas porque anda por todos os lugares e frequenta todos os ambientes sociais, mas porque atuou, como delegado, em quase toda a periferia da cidade, sobretudo a região Noroeste.
Embora esteja em Goiânia há apenas 16 anos ( ele é paranaense, de Curitiba), Waldir afirma que o seu conhecimento da cidade e de povo lhe dão uma visão clara dos desafios a serem enfrentados e das soluções a serem propostas.
Como todo pré-candidato, reluta em adiantar propostas. Mas ele afirma já ter um programa de ação e que uma pequena equipe já está detalhando planos e projetos para viabilizar o programa. A crítica à atual gestão está implícita nas propostas que ele apresenta: Organizar em secretaria única as forças de segurança do município ( agentes de trânsito, guardas municipais etc); estabelecer novas modalidades de transportes urbanos, como os ligeirinhos de Curitiba; abrir vias de trânsito rápido, ou vias expressas, tornando mais rápido e eficiente os deslocamentos rumo aos bairros distantes; fazer do rio Meia-ponte um atrativo turístico; construir hospitais específicos para crianças e idosos; combater a especulação imobiliária em Goiânia etc. Ele afirma também que está preocupado com o centro histórico da cidade e, sobretudo, com a preservação da arquitetura Art Deco.
A carta de Valdir ao PSDB goianiense
Ao sr. Rafael Lousa,
Presidente do PSDB Metropolitano:
Senhor Presidente,
Atendendo a seu pedido formal, fizemos nossa inscrição nas prévias para escolha do candidato do PSDB a Prefeitura de Goiânia. Porém, de forma condicional. Estamos neste momento, no entanto, fazendo a exposição de motivos, das razões e dos vícios, que nos impedem de continuar participando desse processo de escolha.
Para tal decisão, eis o que foi levado em consideração:
1) Como é de seu conhecimento, nossa pretensão de ser pré-candidato a Prefeitura de Goiânia não é recente. Fizemos o pedido ao governador Marconi Perillo, ainda no início do segundo turno das eleições de 2014, quando ele nos pediu para auxiliá-lo em seu projeto de eleição. E, considerando nossa votação de quase 179 mil votos na capital, sendo o representante de direito e de fato de Goiânia, adquirimos nas urnas o direito dessa pretensão, na época, imediatamente acatada por aquela autoridade;
2) Fomos o único pré-candidato que, desde 2014, já manifestava interesse em disputar esse pleito;
3) Ajudamos o PSDB a construir as zonais, o diretório municipal de Goiânia, o estadual e participamos de debates com todos segmentos;
4) O Jornal
O Estado de São Paulo
nos elegeu o quarto parlamentar mais oposicionista ao governo federal, dentre os 513 deputados federais;
5) O Prêmio Congresso em Foco, um dos mais importantes do Brasil, nos escolheu o 16º melhor parlamentar do país em 2015;
6) No processo de escolha do Diretório Estadual, em 2015, ocorreu a pretensão dos parlamentares federais de eleger o presidente, mas houve a intervenção do governador, afirmando que, para pretensões majoritárias no partido, para a escolha, havia uma “fila” de antiguidade, na qual, na ordem sequencial, em primeiro, estava o deputado Giuseppe Vecci. Depois vinham Célio Silveira, João Campos, Fábio de Souza, Alexandre Baldy e Delegado Waldir. Então, ocorreu a desistência de candidato da bancada na época, o deputado Baldy, demonstrando, assim, que a escolha das vagas majoritárias no partido é decisão do governador, que escolheu sr. Afrêni Gonçalves;
7) Sempre manifestamos, publicamente, nossa contrariedade pela adoção de critério único na escolha do pré-candidato do PSDB a Prefeitura de Goiânia, conduta antidemocrática, principalmente para um partido que representa a social-democracia;
8) Nunca exigimos do PSDB ser o candidato exclusivo, e sim regras claras para a disputa;
9) O PSDB de Goiás não tem nenhuma experiência em prévias e, desde Nion Albernaz, a escolha de candidato próprio ou apoiado pela sigla foi realizada pelo governador, em razão de seus acordos e pretensões partidárias;
10) O regimento interno do partido torna facultativa a realização de prévias, elas devem ocorrer quando existem igualdade entre os pré candidatos, em estrutura governamental, pesquisas eleitorais qualitativas e quantitativas (em 2015 e 2016, tenho sido o único pré candidato com índices para enfrentar outros eventuais adversários) e espaço na mídia;
11) Com o lançamento de nosso nome como pré-candidato, jornais e blogs que recebem verbas oficiais do Estado, passaram a denegrir minha imagem e ofender minha honra, de minha família e de meus eleitores;
12) Da mesma forma, pela imprensa, o presidente da Agetop, Jayme Rincón, o líder do governo na Assembleia, José Vitti, o presidente de honra, Nion Albernaz, o ex-vereador Maurício Beraldo e o vereador Geovani Antonio – todos filiados ao PSDB – atacaram a nossa honra ou pessoa, como fariam a um oposicionista. Estas pessoas não pagam as contas do partido, todos são bancados por recursos vindos da nossa votação, através do Fundo Partidário, com repasses aproximados de R$ 220.000,00 reais mensais – sem acrescer a contribuição ao Fundo efetuada pelo deputado Fábio Sousa, eleito em razão de nossa votação;
13) Na última semana, o vice-governador, no próprio Palácio, em sua sala, usando telefone e instalações públicas, e como coordenador político do governo, se reuniu com deputados estaduais do PSDB, e também com uma pessoa de nossa confiança, para pedir apoio e compor a chapa majoritária de um dos pré-candidatos inscritos nas prévias, o indicando como escolhido do PSDB para as eleições de 02 de outubro;
14) Antes, em evento recente de aniversário de um dos pré-candidatos, foram utilizados funcionários, prédio e telefones da Fundação de Amparo a Pesquisa (FAPEG), órgão da estrutura de governo estadual, para convidar pessoas. O fato foi noticiado pela imprensa;
15) Nunca ocorreu na história de Goiás tamanha cobertura jornalística de um aniversário, como a realizada sobre esse evento de um dos pré-candidatos, que contou, também, com gigantesca estrutura;
16) Foi indicado para a Comissão Eleitoral um membro suspeito, o sr. ex-vereador Maurício Beraldo, que usou jornais para atacar minha pré-candidatura;
17) Membros da Comissão Eleitoral, durante esse pleito eleitoral, de forma não isenta, participaram desse evento particular (o aniversário) de um dos pré-candidatos;
18) Não foi acatado nosso pedido de adiamento de inscrição nas prévias, como estabelecido pelo diretório estadual, que previa prazo até 11/02 para inscrição nas prévias. Fato esse que evitaria desgastes e nossa inscrição condicional;
19) A lista de filiados aptos a votar nas prévias, fornecida pela presidência do PSDB aos pré-candidatos, apresenta vícios – como homônimos – é desatualizada, sem dados completos;
20) Nesta mesma lista, de aproximadamente 9.500 filiados, 2079 são funcionários estaduais, municipais, da Câmara de Goiânia e da Assembleia, caracterizando indícios de “voto de cabresto”;
21) Um dos pré-candidatos inscritos nas prévias já ocupou a presidência do Diretório Municipal, portanto, tendo possibilitado influência e controle de grande parte dos filiados;
22) Ocorreu, antes mesmo das prévias, o “lançamento” de pelo menos dois pré-candidatos, um deles já afastado depois da Operação Compadrio, com o apoio maciço do governo e do PSDB, caracterizado por grande exposição nos meios de comunicação – com páginas inteiras de jornais e sites conhecidos por receberem verbas oficiais do governo do Estado.
Isto posto, considerando os vícios apontados, suspendemos a condicionalidade de nossa inscrição nas prévias para escolha do pré-candidato do PSDB de Goiânia, nos afastando, de forma irreversível.
Esclarecemos que temos um dossiê de documentos, com um levantamento feito junto a veículos de imprensa e pesquisas em Portais de Transparência, que comprovam, amplamente, as irregularidades apontadas.
Goiânia, 12 de fevereiro de 2016.
Delegado Waldir
Deputado Federal (PSDB-GO) – BRASIL EM FOLHAS COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS – I3D 3497