O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse nesta quinta-feira, em Bruxelas, que não aceitará um acordo ruim na cúpula para evitar a saída do Reino Unido da União Europeia, mas o presidente francês, François Hollande, já avisou que não serão feitas exceções.
Se pudermos fazer um bom acordo, faremos, mas não ficarei com um acordo que não atenda às necessidades da Grã-Bretanha, disse Cameron à imprensa ao chegar na cúpula europeia.
Cameron também pediu a seus colegas da UE que ofereçam um acordo global crível que satisfaça as demandas britânicas.
As negociações são uma oportunidade para passar para uma abordagem fundamentalmente diferente da nossa relação com a União Europeia, o que alguns chamariam viver e deixar viver, teria dito aos colegas, segundo sua assessoria.
Os 28 chefes de Estado e de governo da União Europeia se reúnem nesta quinta e sexta em uma cúpula apresentada como decisiva, para negociar um acordo com Londres. Com isso, Cameron teria mais condições de convencer seus eleitores a votar a favor da permanência no bloco no referendo que prometeu organizar.
O acordo é possível, disse o presidente François Hollande, mas apenas se reunir certas condições, entre elas a de que não impeça a Europa de avançar em sua construção.
Pressionado pela ala eurocética de seu partido e pelas formações antieuropeias, Cameron prometeu organizar um referendo e pediu reformas a seus 27 sócios da UE. O referendo aconteceria em junho.
Com esse objetivo, apresentou suas exigências em novembro. No início de fevereiro, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, fez uma série de contrapropostas que foram negociadas entre os membros do bloco.
Entre as exigências britânicas, está a de obter salvaguardas para os países que não usam o euro e que as decisões dos 19 países que usam a moeda única não sejam tomadas em detrimento dos demais.
Caso não seja alcançado um acordo, Cameron disse que tudo será possível, inclusive que seu país se transforme no primeiro a abandonar a UE.
Bruxelas propôs garantias a Londres, mas Paris defende que nenhum país pode ter direito ao veto sobre uma maior integração da união econômica. Nisso, a França conta com o apoio da Bélgica, cujo primeiro-ministro, Charles Michel, repetiu nesta quinta-feira que o Reino Unido deve permanecer na UE, mas não ao preço de um desmantelamento do projeto europeu.
Cameron também pediu que sejam limitadas as ajudas sociais aos estrangeiros na Grã-Bretanha, a exigência mais polêmica. O objetivo aqui é frear a imigração europeia. Isto provocou duras críticas em todo o bloco, em particular no Leste, origem da maioria dos imigrantes europeus do Reino Unido. Nesse tema, Cameron recebeu o crucial apoio da chanceler alemã, Angela Merkel, que considerou a maioria de suas demandas justificadas.
Um drama
Ao chegar à cúpula, Merkel expressou sua vontade de fazer todo o possível para criar as condições para que o Reino Unido permaneça na UE.
A presidente lituana, Dalia Grybauskaite, mostrou-se confiante: todo mundo fará seu drama e, então, chegaremos a um acordo.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, manifestou-se na mesma linha: há boas possibilidades de alcançarmos um acordo.
É hora da verdade, lançou o primeiro-ministro Charles Michel, ao chegar. Seu país tem sido um dos mais reticentes a fazer concessões a Londres.
Queremos um bom acordo, mas não a qualquer preço, frisou, por sua vez, a premiê polonesa, Beata Szydlo.
Desde que Tusk fez as propostas, os diferentes protagonistas multiplicaram suas consultas, assim como as viagens, para tentar obter apoios e diminuir as diferenças antes da cúpula.
Nesta quinta-feira, ao chegar no encontro, Tusk considerou a reunião decisiva e destacou que as negociações ainda são muito difíceis e sensíveis.
O último rascunho que circulava nesta quinta pela manhã, um documento de 18 páginas utilizado como base de negociação, ainda contém vários parágrafos entre parênteses, ou seja, por resolver.
Segundo diferentes fontes diplomáticas consultadas em Bruxelas, a cúpula se anuncia complicada, embora destaquem que uma saída do Reino Unido da UE seria pior do que qualquer concessão.
Será difícil. Esta será uma longa noite, comentou uma fonte de Downing Street.
Em uma sala adjacente, explicaram fontes europeias, haverá um batalhão de advogados encarregados de traduzir as decisões tomadas em textos legais vinculantes e irreversíveis.
As exigências refletem a tradicional visão de Londres do que deveria ser a União Europeia – um grande mercado aberto – frente aos países que querem fazer do bloco uma união mais política. – BRASIL EM FOLHAS COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS – I3D 3696