Diante de milhares de manifestantes nas comemorações pelo Dia do Trabalhor, a presidente Dilma Rousseff anunciou aumento médio de 9% dos benefícios do Bolsa Família e acusou o vice-presidente Michel Temer de planejar tirar 36 milhões de pessoas do programa caso assuma o governo. Com presença anunciada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu ao ato realizado pelas centrais sindicais e movimentos populares contra o impeachment, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Segundo sua assessoria, ele estava sem voz. Dilma chegou por volta de 13h30, quando foi tocado o hino nacional. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou que a ausência de Lula seria uma estratégia para “dar protagonismo” à presidente.
– Eles falam que vão dar Bolsa Família só para os 5% mais pobres. Serão 36 milhões que vão sair do programa e ser entregues às livres forças do mercado para se virar. Estão afetando não é adulto, homem e mulher adultos. Quem mais se beneficia hoje são as nossas crianças e adolescentes, que têm assegurado acesso à alimentação, saúde e educação – discursou Dilma.
A petista anunciou um pacote de bondades. Além do reajuste do Bolsa Família, a correção de 5% da tabela do imposto de renda de pessoas físicas a partir de 2017, a contratação de 25 mil moradias do Minha Casa Minha Vida para entidades populares, a criação do Conselho Nacional do Trabalho tripartite, com trabalhadores, empresários e governo, a ampliação da licença-paternidade para funcionários públicos de cinco para 20 dias e o Plano Safra para agricultura familiar.
No ato da Força Sindical, na Zona Norte de São Paulo, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, disse que Michel Temer não vai reduzir benefícios dos trabalhadores.
Mais cedo, antes de Dilma subir ao palco no ato, o Palácio do Planalto adiou a coletiva que a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, daria na tarde deste domingo sobre a correção dos valores do Bolsa Família. Não foi definida a nova data.
IMPEACHMENT É ELEIÇÃO INDIRETA
A presidente fez duros ataques ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) e disse que ele pediu ao governo que ordenasse aos três deputados do PT na Comissão de Ética da Câmara que votassem contra a abertura do processo contra ele. Como o governo não aceitou, Cunha decidiu, segundo ela, se vingar:
– O que ele fez é desvio de poder.
De forma indireta, sem mencionar o nome do vice-presidente, a presidente voltou a chamar Temer de traidor. Para Dilma, os direitos dos trabalhadores estão ameaçados se o peemedebista assumir o poder.
– Chegam ao ponto de me acusar de algo que não participei. Se eles praticam isso contra mim, o que vão praticar contra o povo trabalhador? – indagou.
Ao listar as propostas do peemedebista de privatização, a petista disse ainda que o pré-sal será a primeira vítima. A presidente afirmou que os que estão a favor do impeachment vão piorar a situação econômica do país e ferir a Constituição. Para ela, o impeachment é um disfarce para um projeto de eleição indireta.
– Esse projeto que querem impor ao Brasil não foi o projeto vitorioso nas urnas em 2014. Se querem esse projeto, que vão às urnas em 2018 e coloquem ao crivo do povo brasileiro – acusou.
Dilma voltou a dizer que não tem conta no exterior, nunca usou recursos públicos em causa própria e nunca embolsou dinheiro do povo brasileiro.
– Não recebi propina e nunca fui acusada de corrupção, eles tiveram que inventar um crime – disse Dilma, referindo-se às pedaladas fiscais.
Atos contra e a favor do impeachment acontecem neste domingo em 14 estados e no Distrito Federal, a maioria é pró-Dilma. Em São Paulo, a central Conlutas pede novas eleições num ato na Avenida Paulista. Em Brasília, manifestantes levaram cartazes com a palavra golpe em vários idiomas.
PT: SEM CONVERSA COM TEMER
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou em discurso que o PT não vai conversar com Michel Temer.
– Eu não converso com golpista, eu não converso com quem trai sua própria colega de chapa. Nós vamos lutar pela democracia – disse Falcão.
Haddad afirmou que a data marca a unidade da classe trabalhadora para impedir retrocesso dos direitos sociais no Brasil.
– Estamos chegando no momento mais importante desde 1964. A direita se rearticulou, mas subestima a luta do trabalhador e vai cometer esse erro de novo. Ninguém vai abrir mão da democracia – afirmou.
Gilmar Mauro, um dos integrantes da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST), afirmou que a entidade não vai dar trégua a qualquer governo impostor e que os movimentos sociais e de trabalhadores já são vitoriosos porque conseguiram construir uma unidade de esquerda.
– Não vamos dar um dia sequer de trégua a qualquer governo impostor – afirmou Mauro.
O dirigente do MST disse que é tarefa dos militantes, de todas as frentes e movimentos, continuar na batalha.
– Vimos o cretinismo parlamentar brasileiro dando aula de hipocrisia e de problema crônico e histórico, que mistura o público e o privado – afirmou Mauro, que se referiu ao Ministério Público como o mequetrefe do MP em defesa da iniciativa privada.
Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares, afirmou que as entidades populares vão continuar resistindo ao impeachment.
– Não vou falar de eventual governo Temer porque não haverá governo Temer. Vamos continuar resistindo nas ruas – afirmou Bonfim, acrescentando que Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, é vendido e vai ser escrachado nas ruas junto com Michel Temer e com Eduardo Cunha, a quem chamou de maior ladrão do país.
Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, afirmou que a celebração do Dia do Trabalhador acontece num momento muito grave, que há um golpe em curso, uma tentativa arquitetada pela casa grande, que desde 500 anos querem mandar neste país”.
Pelo país, houve atos contra o impeachment em, pelo menos, 28 cidades de 19 estados e do Distrito Federal, de acordo com o site G1. Em Belém, manifestantes pró-impeachment que apoiam o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e grupos pró-Dilma ligados à CUT trocaram ofensas. A PM conteve os manifestantes, que foram orientados a se dispersar.
Em Porto Alegre, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do prêmio Nobel da Paz de 1980, participou de um ato contra o impeachment. Em Brasília, manifestantes fizeram cartazes com a palavra “golpe” em vários idiomas.
MINISTÉRIO: CUSTO DE R$ 1 BILHÃO
O Ministério do Desenvolvimento Social informou neste domingo que o reajuste de 9% no Bolsa Família anunciado pela presidente Dilma Rousseff representa um aumento no valor médio pago às famílias beneficiárias, que passará a ser de R$ 176. As outras correções serão nos benefícios anunciados são no valor da linha da extrema pobreza, que passará de R$ 77 para R$ 82 e na linha de pobreza, que passará de R$154 para R$164, um aumento de 6,5%. Também serão reajustadas as transferências para gestantes e nutrizes, dos atuais R$ 35 para R$ 38 e para os jovens de até 15 anos, que será ampliado de R$ 42 para R$ 45.
O Ministério alega que as medidas custarão no máximo R$ 1 bilhão, montante que estava planejado para o reajuste no Orçamento. As mudanças constarão de um decreto presidencial que será publicado no Diário Oficial da União. A pasta afirma ainda que o reajuste será feito para manter o ciclo de valorização do Bolsa Família de aumentar o valor do benefício em 23% acima da inflação desde 2011. Atualmente, o programa é pago a 13,8 milhões de famílias. – BRASIL EM FOLHAS COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS – I3D 9246