SÃO PAULO – Muitos analistas fizeram previsões bastante otimistas sobre para onde iria o Ibovespa com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Passado o grande rali de março e abril, ao invés de subirmos até os 60 mil pontos, voltamos aos 51 mil pontos. De certa forma, podemos ver esse movimento como um sobe no boato, realiza no fato, no qual investidores compram uma notícia antes dela ocorrer e aproveitam a confirmação para embolsar os lucros, fazendo com que as ações mais compradas corrijam ganhos. A grande questão que fica é: até onde vai essa correção no caso do Ibovespa?
Para Pablo Spyer, diretor da mesa de trade da Mirae Asset Wealth Management, o movimento vai longe, com espaço para cair até os 47 mil pontos. E ele elenca cinco motivos para isso, que vão desde os Estados Unidos até a própria dificuldade do governo recentemente empossado de colocar uma economia em frangalhos nos eixos.
1. Juros nos EUA No caso dos norte-americanos, o grande risco que voltou à tona é a elevação das taxas de juros, que podem vir mais cedo e com maior intensidade do que o mercado esperava. Para explicar isso, ele mostra um gráfico da curva de Taylor, equação do economista norte-americano John Taylor, que busca resumir como o Federal Reserve deveria se comportar quanto à taxa de juros para conseguir uma inflação baixa e um nível de emprego alto. A curva baseada na teoria de Taylor mostra que a taxa básica de juros dos EUA deveria estar atualmente em 3%. Na vida real, contudo, o Fed ainda reluta em elevar a sua banda de juros para um limite de 0,5%.
Some-se a isso o aumento acima do esperado da inflação norte-americana em abril, para 0,4%, contra 0,2% pela expectativa mediana dos economistas, e você tem a receita perfeita para que o Fed mude de opinião acerca da sua política monetária.
2. Brexit A possibilidade do Reino Unido deixar a União Europeia é mais real do que muitos investidores imaginam, avalia o diretor da Mirae. Quem vai votar lá são os jovens, que estão descontentes com o desemprego, muitos são contra os grandes fluxos de imigrantes chegando lá, e não têm noção do impacto que isso trará à economia global, explica.
3. Sell in may Segundo Spyer, também é possível notar um pouco do fenômeno conhecido como sell in may ou venda em maio, bastante famoso nos EUA. Significa realizar lucros em neste mês para escapar de efeitos sazonais que costumam provocar quedas na bolsa. O sentimento de sell-in-may impacta, com investidores, principalmente estrangeiros, preocupados com a volatilidade sazonal nos mercados entre maio e meados de novembro, explica.
4. Desvalorização do yuan Todos nós lembramos do que ocorreu no ano passado nos mercados quando a China decidiu desvalorizar a sua moeda para fazer frente à sua desaceleração econômica. Para Spyer, isso pode ocorrer novamente em 2016. Se o yuan se desvalorizar, o dólar pode bater R$ 3,70, afirma.
5. Sem milagres na economia Outro problema, é que o governo Temer, ao contrário do que muitos acreditam, não fará milagres na economia. Tivemos mais um downgrade e o desemprego vai chegar a 14% no fim do ano. O cenário macroeconômico está ainda se deterioranda, ainda temos um quadro mais cinzento do que frutífero, explica.
Outro lado Como contraponto, o analista independente da consultoria WhatsCall, Shin Lai, diz que do lado positivo, um dos problemas para a economia, que era o fator governo, saiu do foco. Foi positivo ter destravado a política econômica, mas são só ainda sinalizações sem resultado concreto definido. O mercado está esperando para ver as medidas mais concretas, diz. Para ele, o Ibovespa deve passar as próximas semanas operando em uma banda entre 48.000 e 53.000 pontos.
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