O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, continuava inflexível em seu confronto com a União Europeia (UE) sobre a acolhida de refugiados, apesar de não ter obtido o quórum necessário no referendo de domingo sobre sua política antimigratória e de soberania nacional.
Orban sofreu um revés no referendo, que registrou uma participação abaixo dos 50% necessários – de acordo com números oficiais, após a apuração de 99,6% dos votos.
A União Europeia não poderá impor sua vontade à Hungria em matéria de imigração, declarou Orban, depois do anúncio do resultado.
Bruxelas não poderá impor sua vontade à Hungria, acrescentou o líder conservador em um discurso, ressaltando que espera fazer Bruxelas compreender que não pode ignorar a vontade de 99,2% dos eleitores.
Como se antecipava, os eleitores do não atingiram 98,3% do total, mas apenas 39,8% dos oito milhões de inscritos compareceram às urnas, o que invalidou o resultado, segundo os números divulgados pelo vice-presidente do partido, Gergely Gulyas.
Orban, no entanto, está destacando apenas a arrasadora maioria do voto pelo Não, e considerou nesta segunda que a consulta foi um sucesso.
A Hungria decidiu dizer claramente, de uma vez por todas, o que os húngaros pensam das migrações em massa, declarou ante o parlamento.
Segundo Orban, o resultado, ainda sem quórum, reflete o amplo apoio dos eleitores a sua política.
Vamos lutar por nosso direito, prometeu, sem deixar dúvidas sobre sua vontade de prosseguir com sua campanha – junto ao grupo de Visegrado (Hungria, Eslováquia, República Tcheca, Polônia) – para reforçar o peso dos parlamentos nacionais frente aos tratados europeus.
Antevendo há alguns dias uma possível vitória contrariada pela abstenção, Orban sempre reiterou que a prioridade era a porcentagem alcançada pelo não.
Estou orgulhoso de que sejamos os primeiros [na Europa] a responder a essa questão nas urnas, mesmo que estejamos sozinhos, infelizmente, declarou Orban, ao fim da votação.
Com o referendo, podemos enviar uma mensagem para cada europeu: lhes dizer que depende de nós, cidadãos europeus, fazer que a UE entre na razão, com um esforço comum, ou deixá-la se desintegrar, insistiu o dirigente.
Em Bruxelas, as autoridades europeias temiam que a consulta húngara aplicasse um novo golpe ao bloco, já abalado pela crise migratória e pelo Brexit.
Se forem organizados referendos sobre cada decisão dos ministros e do Parlamento Europeu, a autoridade da lei está em perigo, advertiu há meses o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Neste domingo, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, denunciou um jogo perigoso.
Nesta segunda, Schulz defendeu o diálogo invés de tensões artificiais dentro da UE.
Os cidadãos húngaros não levaram em conta os chamados de Orban, opinou em seu Twitter.
Para o analista Csaba Toth, do Instituto Republikon, se trata de um número suficiente de votos para convencer Orban de continuar usando o tema da migração – como faz há mais de um ano – visando às legislativas de 2018.
O partido conservador Fidesz de Orban está no poder desde 2010 na Hungria, e seu único verdadeiro rival é o partido de ultradireita Jobbik.
Cerca de 8,3 milhões de eleitores foram convocados para responder à pergunta: Quer que a União Europeia decrete a realocação obrigatória de cidadãos não-húngaros na Hungria sem a aprovação do Parlamento húngaro?.
Mais de 400.000 imigrantes transitaram pela Hungria em 2015, a maior parte deles antes de que serem instaladas as cercas nas fronteiras da Sérvia e da Croácia. – BRASIL EM FOLHAS COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS – I3D 18651