“Foi um processo de redescoberta da vida. Descobri que tenho valores, que sou importante e capaz de começar novamente”. A dona de casa Márcia (nome fictício), de 49 anos, venceu uma batalha contra o alcoolismo após o período de internação de sete meses na clínica de reabilitação Missão Resgate da Paz, em Goiânia, e agora está cheia de planos. Pensa em voltar a trabalhar e em retomar os estudos, já que o vício foi responsável pela interrupção de dois cursos superiores.
A ingestão de álcool começou precocemente, aos 12 anos com o conhaque. Mas com o passar do tempo, sucumbiu pela cerveja. Chegava a beber até seis garrafas.”Eu gostava do sabor e também era uma válvula de escape para os momentos do dia a dia”, diz. Amigos e familiares sempre a alertavam sobre a mudança de comportamento quando bebia, sempre sozinha. Ficava agressiva. Depois, vinha a ressaca física e moral. Em 2003, decidiu então se internar voluntariamente em uma clínica e depois que saiu passou nove anos sem ingerir álcool.
Mas a morte da mãe em 2012 levou a uma recaída e então mais sofrimento. “Os amigos falavam que eu estava mudando de personalidade. Usava um tom mais agressivo com as pessoas e achava que era normal”, lembra. Márcia decidiu ouvir os conselhos e telefonar para o pai, de 78 anos, e pedir ajuda. Ele estava frequentando um grupo de apoio a dependentes químicos e familiares e informou-lhe o endereço do Centro Estadual de Avaliação Terapêutica Álcool e Outras Drogas (Ceat-AD), no Setor Sul, em Goiânia.
No Ceat ela foi encaminhada para a clínica de recuperação, onde participava de várias atividades como oficinas de artesanato e panificação, fazia tarefas domésticas e também acompanhamento espiritual com grupos de estudo bíblico e orações. A partir de agora, Márcia está pronta para voltar ao convívio social e será acompanhada por seis meses, recebendo visitas de uma equipe da clínica neste tempo.
O Centro Estadual de Avaliação Terapêutica Álcool e Outras Drogas (Ceat-AD) integra o Grupo Executivo de Enfrentamento às Drogas (Geed), criado no fim de 2012 pela Lei Estadual 17.834 com a atribuição de coordenar e operacionalizar as políticas públicas relacionadas à prevenção ao uso de drogas no Estado de Goiás, além da recuperação de dependentes químicos. São atendidos adolescentes a partir de 12 anos.
“O Estado de Goiás viu a necessidade de ter um órgão específico que pudesse lidar com a questão da drogadição. É um tema recorrente e ainda não tinha um órgão específico criado para a coordenação e implementação das políticas públicas sobre drogas, tanto no eixo de prevenção, quanto acolhimento e cuidados no âmbito da reinserção social”, afirma o secretário executivo do Geed, Gediael Santos.
Está em fase de finalização o edital lançado em outubro para a compra de 500 vagas em 32 comunidades terapêuticas em todo o estado e o governador Marconi Perillo autorizou a ampliação de 250 vagas. Desta vez, houve uma maior oferta por parte das instituições, que disponibilizaram mil vagas. No último, aberto em 2013, apenas 430 vagas foram ocupadas de um total de 700 ofertadas e menos de 15 comunidades foram selecionadas.
Segundo Gediael, a mudança se deve ao trabalho que vem sendo feito pelo Geed. “Havia uma grande dificuldade para elas (as comunidades terapêuticas) se adequarem quanto à Vigilância Sanitária e à legislação. O Geed buscou fomentar essa aproximação junto ao terceiro setor para que elas fossem regularizadas. Foi firmado um TAC ( Termo de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público no qual o Geed era responsável por auxiliar essas comunidades quanto à legislação, quanto à busca de recursos e nesse último edital tivemos o inverso”, disse.
crack
No Ceat, os usuários de drogas que buscam o apoio do Estado para o tratamento são submetidos a uma triagem para posterior encaminhamento ao processo de desintoxicação e atua de forma integrada à rede de atenção psicossocial. A unidade conta com uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais que fazem uma avaliação caso a caso. Gediael enfatiza que a procura ocorre gratuita e voluntariamente e da mesma forma, a internação.
O atendimento vai além, contemplando também os familiares dessas pessoas que muitas vezes ficam psicologicamente abalados e precisam de ajuda para lidar com esta realidade. Outro serviço disponibilizado é o teleatendimento pelo número 0800 649 0145, o Disque Recomeço, por meio do qual são repassadas diversas orientações.
Ceat já realizou mais de 10 mil atendimentos
Mais de 10 mil atendimentos já foram realizados pelo Ceat, somando os registros via call center, presenciais, encaminhamento para comunidade terapêutico ou outros tipos de tratamento. Com base nisso, foi realizado um estudo para traçar o perfil epidemiológico dessas pessoas. Foram analisados 3.039 prontuários de usuários de ambos os sexos e os ciclos de vida (adolescentes, adultos e idosos), com triagens feitas, diretamente, pelo Ceat-AD através do call center.
Embora, inicialmente, esse levantamento estatístico tenha sido elaborado para fundamentar a contratação das Comunidades Terapêuticas habilitadas pelo edital nº001/2016/Geed, o estudo levantou outros questionamentos relevantes sobre os rumos que a política sobre drogas deveria tomar no estado de Goiás uma vez que variáveis epidemiológicas regionais implicam em tomadas de decisão mais eficazes.
Gênero
Quanto ao gênero observa-se que 8,69% do total de usuários são do sexo feminino e 91,31% do sexo masculino. A Grande Goiânia é dominante em demanda de usuários com 38,70% seguida de seguida de Anápolis 8,95% e Aparecida de Goiânia 5,89%, desta forma percebe-se que a macrorregião de Goiânia representa 53,54%.
Escolaridade
O nível cultural de escolaridade, em sua maioria, foi de ensino fundamental 65,39%, ensino médio 27,21%, superior com 2,83% e significativamente um número alto de analfabetos (4,44%).
Moradores de rua
Também observa-se que há um aumento significativo de moradores em situação de rua comparando os dados de maio a dezembro de 2014 com 118 usuários (3,88%) e de maio de 2014 a julho de 2016 esse número representa 914 usuários – aumento de 77,45%.
Faixa etária
A maior parte dos usuários está na faixa etária de 31 a 59 anos (53,50%), adultos entre 19 e 30 anos representam 34,52%. Já aos adolescentes de 15 a 18 anos são 7,9% do total, adolescentes entre 12 e 14 anos representam 2,47%, e idosos (acima de 60 anos) 1,51% e não informado 0,10%.
Foco na prevenção
Gediael avalia que o Geed tem acolhido os que precisam de ajuda e precisam se livrar do vício, tem buscado o retorno ao convívio social e familiar mas tem atuado substancialmente na prevenção, Anjos-Urbanos 2principalmente entre os jovens, para evitar o envolvimento deles com o mundo das drogas. “Temos o projeto Farol destinado aos diretores e professores de escolas justamente para se capacitarem e lidarem com essa questão da drogadição dentro das escolas. Além disso, o Geed tem recebido o apoio do projeto Vencer para desenvolver a cidadania”, afirma Gediael.
Desde junho, por meio do Projeto Vencer, estão sendo oferecidas oficinas de música, iniciação esportiva e dança em 23 escolas de 15 bairros de regiões periféricas de Goiânia, localizadas em regiões com maiores índices de criminalidade segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária. Cerca de 20 mil alunos foram beneficiados.
Anjos Urbanos
A Caravana Anjos Urbanos é outra ação de prevenção que percorre a capital e cidades do interior do estado para realizar palestras educativas em escolas e fazer o trabalho de conscientização e divulgação do trabalho do Geed, com a distribuição de panfletos informativos. As visitas ocorrem durante as edições do Programa Governo Junto de Você ou quando solicitadas pelos municípios. – BRASIL EM FOLHAS COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS – I3D 20915