Os principais líderes da região Ásia-Pacífico se reúnem a partir desta quinta-feira para defender seus preciosos acordos comerciais, ameaçados pelas políticas protecionistas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
O Peru começa a receber os ministros, empresários e executivos dos países que integram o fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) para, a partir de sexta até domingo, dar vez aos governantes das 21 nações do bloco.
A cúpula acolherá chefes de governo como os da China, Xi Jinping; Japão, Shinzo Abe; Rússia, Vladimir Putin; além do presidente em fim de mandato dos Estados Unidos, Barack Obama.
Este fórum é um espaço crucial para nos assegurarmos de que o dinamismo do comércio internacional não se perca e seja um dos motores de nosso crescimento, afirmou o presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski.
A seguir, os temas que serão abordados nas deliberações em Lima.
Efeito Trump
Trump tem semeado incertezas no mundo com suas propostas de frear o livre comércio internacional para proteger os empregos nos Estados Unidos. Isso afeta particularmente a região da Ásia-Pacífico, que representa quase 60% da economia mundial e 40% da população global.
Os líderes buscarão em sua nova cúpula uma declaração forte para contra-atacar os argumentos anticomerciais de Trump, afirmou Eduardo Pedrosa, secretário-geral do Conselho de Cooperação Econômica do Pacífico.
Os economistas esperam que Trump aplique medidas protecionistas que, segundo dizem, fortaleceriam a maior economia do mundo a curto prazo, mas poderiam ameaçar a estabilidade global.
Ele poderá impor tributos punitivos a sócios comerciais poderosos como a China e revisar acordos-chave de livre comércio com países como o México, que dependem do mercado americano, considerou o Instituto de Finanças Internacionais.
Se tais medidas forem tomadas, as tensões comerciais certamente aumentarão, com a guerra comercial como um possível pior cenário, afirmou em um relatório.
Obama buscou reequilibrar o comércio em relação aos acordos com a Ásia e o Pacífico. Mas Trump tem rejeitado a assinatura do Acordo de Associação Transpacífico (TPP) considerando-o como terrível.
O TPP, que deve ser ratificado pelos países signatários, agrupa os Estados Unidos e outras 11 economias da região Ásia-Pacífico, entre elas Chile, México e Peru. O bloco exclui a China e se tornaria a maior zona de livre comércio do mundo.
Na agenda da presidente Michelle Bachelet está programada uma reunião entre os líderes do TPP para discutir o futuro do acordo, disse a chancelaria chilena.
Não creio que vá acontecer uma grande catástrofe. Na campanha, Trump disse coisas, mas sentado na cadeira presidencial vai ter que reavaliar, afirmou o ministro do Comércio Exterior do Peru, Eduardo Ferreyros.
Segurança
Trump também questiona o papel dos Estados Unidos como polícia do mundo. Aliados como Japão e Coreia do Sul estão preocupados ante a possibilidade de que reduza sua presença militar, econômica e diplomática. Temem que possa deixá-los a mercê de uma China dominante e uma beligerante Coreia do Norte.
O republicano tem preocupado a região ao falar que o Japão e a Coreia do Sul deveriam conseguir armas nucleares para se defender. Além disso, mostrou admiração pelo presidente russo Vladimir Putin, que não goza da confiança de Obama e seus aliados.
Trump ainda afirma que a mudança climática é uma mentira chinesa para socavar a competitividade da indústria americana.
O muro que separa
Os líderes da América Latina na sala, incluindo o presidente mexicano Enrique Peña Nieto, também estarão atentos às políticas migratórias americanas.
Durante a campanha, Trump insultou os imigrantes mexicanos chamando-os de criminosos e estupradores. Comprometeu-se em construir um muro na fronteira com o México para evitar os imigrantes ilegais e ameaçou em fazer deportações em massa.
Esse planejamento é questionado pelos governantes latino-americanos, entre eles o anfitrião Kuczynski, que qualificou o feito como um crime.
China aproveita o pânico
Em meio a convulsão, a China impulsionará seus próprios acordos comerciais para ganhar vantagem sobre os Estados Unidos na batalha pela influência global.
O panorama econômico na Ásia-Pacífico está mudando rapidamente, com a China ganhando cada vez mais um papel de liderança regional, escreveu Rajiv Biswas, economista-chefe da Ásia-Pacífico do grupo de pesquisa IHS Global Insight.
A China foi excluída do TPP. Mas devido a negativa de Trump em aprová-lo, o TPP mudou de ser um pato coxo para um pato morto, considerou Biswas.
Pelo contrário, a China propõe uma Zona de Livre Comércio na região da Ásia-Pacífico (FTAAP) e uma Associação Econômica Integral Regional (RCEP) de 16 membros, que inclui a Índia, mas não os Estados Unidos.
O ministro de Comércio da Austrália, Steven Ciobo, disse na quarta-feira ao Financial Times que seu país está disposto a incorporar propostas respaldadas pela China agora que o TPP parece sentenciado à morte.
Qualquer medida que reduza as barreiras ao comércio (…) é um passo na direção certa, sustentou.
Enquanto isso, a China segue desembarcando na América Latina, oferecendo financiamentos milionários para projetos de infraestrutura no Brasil, Peru e Bolívia, entre outros.
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