Riad, Jerusalém, Belém, Roma, Bruxelas e Sicília: o presidente Donald Trump, em dificuldades em Washington, inicia nesta sexta-feira uma viagem que será acompanhada de perto pelas capitais de todo o mundo.
Esta primeira viagem prolongada – cinco países em oito dias, uma série de reuniões – promete ser um exercício difícil para o presidente dos Estados Unidos.
A avalanche de revelações que precedeu sua partida o colocou em uma posição delicada em seu país e reavivou dúvidas sobre a sua capacidade de desempenhar a função presidencial na presença de seus homólogos.
O fato é que ninguém sabe como Donald Trump vai se comportar ou o que dirá nas reuniões que nunca esteve, resume Stephen Sestanovich, do Conselho de Relações Exteriores.
Os conselheiros do presidente imprevisível, de 70 anos, afirmam que seu estilo amigável, mas franco é uma garantia de eficiência nas relações internacionais.
Trump, pouco simpático a viagens longas, será acompanhado por sua esposa Melania, até agora praticamente ausente nas atividades públicas. Sua filha Ivanka e seu genro Jared Kushner, dois dos seus assessores mais próximos, também embarcarão no avião presidencial Air Force One.
O magnata do ramo imobiliário, que tenta ajustar suas incendiárias declarações de campanha, terá de explicar como seu lema favorito, a América primeiro, é compatível com o multilateralismo.
O presidente sabe que América primeiro não significa Estados Unidos sozinhos, muito pelo contrário, declarou o general H.R. McMaster, seu conselheiro de Segurança Nacional. Mas, além da frase, muitas questões permanecem.
– Discurso sobre o Islã –
A Casa Branca antecipa uma viagem histórica, na qual o presidente irá ao encontro das três grandes religiões monoteístas.
Em Riad, onde chegará no sábado, Trump deverá se esforçar para marcar o contraste com seu antecessor, que despertou a desconfiança das monarquias sunitas do Golfo.
Um poderoso discurso contra o Irã xiita, silêncio sobre questões de direitos humanos, provável anúncio de contratos de armas, são os ingredientes para que a recepção seja boa.
Mas o presidente faz uma aposta arriscada ao pronunciar na capital saudita, para mais de 50 líderes de países muçulmanos, um discurso sobre o Islã.
Vou chamá-los a combater o ódio e o extremismo, prometeu antes da viagem, citando uma visão pacífica do Islã.
Em Israel, onde espera impulsionar a ideia de um acordo de paz com os palestinos, Trump se reunirá com seu amigo Benjamin Netanyahu (em Jerusalém), e com o presidente palestino Mahmud Abbas (em Belém, nos territórios palestinos ocupados).
Esta etapa será cercada de polêmicas, principalmente quanto a organização da visita ao Muro das Lamentações e a transmissão aos russos de informações confidenciais obtidas pelo aliado israelense.
O encontro com o papa Francisco no Vaticano terá um aspecto singular, uma vez que as posições dos dois homens são diametralmente opostas em questões como a imigração, refugiados ou mudanças climáticas.
A Europa, onde Trump semeou confusão com declarações contraditórias sobre o Brexit, o futuro da União Europeia e o papel da Otan, será a última etapa de sua turnê com uma reunião cúpula da Aliança Atlântica em Bruxelas e outra do G7 em Taormina, na Sicília.
Até agora, Trump não reafirmou o compromisso dos Estados Unidos com o artigo 5 do tratado da Otan sobre a solidariedade do seu país em caso de agressão externa.
– Viagem de Nixon em 1974 –
A percepção da viagem nos Estados Unidos também será crucial. Consciente de que a ameaça terrorista é uma questão de preocupação central, o presidente republicano espera voltar com compromissos concretos com seus aliados na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Mas, quaisquer que sejam as impressões de sua viagem, não serão suficientes para fazer esquecer os casos que sacodem a presidência em Washington.
Para Bruce Riedel, um ex-oficial da CIA e agora analista do Brookings Institution, uma comparação que naturalmente vem à mente é a viagem ao Oriente Médio em 1974 de Richard Nixon, que esperava um sucesso diplomático para desviar a atenção do escândalo Watergate.
Isso não funcionou, a imprensa americana se concentrou implacavelmente sobre Watergate, tratando a viagem como um acessório, enquanto as revelações continuavam a se acumular, lembra ele.
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