O presidente americano, Donald Trump, enfrentou nesta quarta-feira (13) o impacto do tapa eleitoral no Alabama, onde a surpreendente vitória de um democrata ao Senado reduziu a margem de manobra do governo no Congresso e aumentou a possibilidade de uma debandada de legisladores republicanos.
Roy Moore, um ex-juiz ultraconservador, acusado durante a campanha eleitoral de abuso sexual de adolescentes nos anos 1970, era o candidato de Trump para ocupar o cargo do agora procurador-geral Jeff Sessions no conservador reduto sulista republicano.
Mas em uma apertada votação que mobilizou a comunidade negra e encheu de esperança o Partido Democrata, venceu o defensor dos direitos civis Doug Jones, reduzindo a maioria governista no Senado ao mínimo (51 das 100 cadeiras), dificultando a já complicada concretização da agenda do presidente.
Trump, que na terça-feira à noite saudou Jones com uma vitória é uma vitória, buscou nesta quarta-feira se distanciar da derrota, recordando que inicialmente apoiou o rival de Moore nas primárias republicanas, Luther Strange.
O motivo pelo qual apoiei Luther Strange é porque disse que Roy Moore não seria capaz de vencer as eleições. Tinha razão! – tuitou.
Mais tarde, Trump admitiu que gostaria de ter conseguido a cadeira, e criticou os muitos republicanos que pensam de maneira diferente e estão contentes com o resultado.
Mas o certo é que Trump ignorou o conselho dos líderes partidários ao apoiar Moore, que, como ele, contava com o apoio dos eleitores religiosos e brancos.
Moore não só recebeu apoio de Trump para votar nele, como a assessoria do ultradireitista e ex-estrategista-chefe do presidente Steve Bannon, que acrescentou ao discurso do candidato republicano seus usuais apontamentos carregados de conotações raciais e ataques à imprensa e às elites.
O revés eleitoral não fez mais do que alimentar as críticas internas.
Muitos republicanos que se preocupam em manter as maiorias estão furiosos com Trump/Bannon, tuitou Alex Conant, o ex-diretor de Comunicações do senador Marco Rubio, resumindo o sentimento de muitos.
A Casa Branca queria celebrar nesta quarta a única vitória legislativa anunciada pela nova administração: a reforma fiscal. Mas agora o discurso de Tump sobre esse tema poderia passar despercebido.
– Barba de molho –
O terremoto político no Alabama ganhou as manchetes: há um quarto de século que os democratas não levavam uma cadeira no Senado nesse estado marcado pelas tensões raciais, onde no ano passado Trump venceu por 28 pontos a sua adversária, Hillary Clinton.
Jones, famoso por mandar para a prisão perpétua dois membros da Ku Klux Klan por um atentado em 1963 que deixou quatro crianças mortas, teve 49,9% dos 1,3 milhão de votos, contra 48,4% para Moore, uma diferença de apenas 21.000 votos que renovaram as esperanças do Partido Democrata visando as eleições legislativas do próximo ano.
Quando o Partido Democrata se envolve cedo, chegamos devagar, mas de forma segura, afirmou na CNN o presidente do partido, Tom Pérez, ao assinalar a mobilização em massa que incluiu particularmente a comunidade negra e contou com o apoio decidido de Barack Obama, entre outras proeminentes figuras democratas.
Os republicanos estão colocando a barba de molho porque sabem que devem manter o controle das duas Câmaras para fazer avançar suas iniciativas e afastar a possibilidade de uma destituição do presidente, que conta com apenas 35% de popularidade e vive cercado por escândalos.
O jornal USA Today, usualmente moderado, pediu nesta quarta a renúncia do presidente, afirmando que não serve nem para limpar os sanitários da biblioteca presidencial de Barack Obama, ou lustrar os sapatos de George W. Bush.
O presidente Trump mostra que não está apto para o cargo, assinala em seu editorial, um dia depois que o presidente insinuou que a senadora democrata Kirsten Gillibrand faria favores sexuais para conseguir fundos para sua campanha.
Moore ainda não reconheceu a sua derrota. Quando a votação é assim apertada, ainda não terminou, disse aos seus seguidores, inclinando-se a pedir uma recontagem dos votos.
Mas a lei do Alabama prevê somente uma recontagem automática se a diferença estiver dentro de meio ponto percentual, que atualmente é de 1,5%.
O Alabama certificará a eleição entre 26 de dezembro e 3 de janeiro. Se não for ordenada uma recontagem, espera-se que Jones estreie no Capitólio em Washington no início de janeiro. Mas já terá feito história.
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