A Turquia está cansada de esperar por uma eventual adesão à União Europeia (UE), declarou nesta sexta-feira (5), em Paris, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, após um encontro com o líder francês, Emmanuel Macron, que não prevê avanços sobre o tema.
No entanto, Emmanuel Macron propôs ao chefe de Estado turco uma associação com a UE na falta de uma adesão. Com essa proposta, Macron disse que queria sair da hipocrisia diante de Erdogan.
A conversa foi muito sincera, destacou o Palácio do Eliseu – sede do Executivo francês – a respeito do encontro entre os dois presidentes, que admitiram principalmente suas divergências com relação à situação dos direitos humanos na Turquia desde o golpe de Estado frustrado de 2016.
Mas também celebraram sua cooperação na luta contra o terrorismo, especialmente o de extremistas islâmicos, que é estratégico e de qualidade, segundo Emmanuel Macron.
Durante a coletiva de imprensa, realizada ao final do café-da-manhã e da reunião, os dois presidentes admitiram que a perspectiva de uma entrada da Turquia na UE está mais distante do que nunca.
A Turquia está cansada de esperar na antessala da Europa há 54 anos, declarou Erdogan. Não podemos implorar permanentemente uma entrada na UE, lamentou.
Macron, por sua vez, destacou que está claro que as recentes evoluções na Turquia no campo dos direitos humanos excluíam qualquer avanço nas negociações de adesão.
Assim, Macron sugeriu repensar esta relação, não no âmbito de um processo de integração, mas talvez de cooperação, de uma associação, com o objetivo, acrescentou, de preservar a ancoragem da Turquia e do povo turco na Europa e fazer com que seu futuro se construa olhando para a Europa e com a Europa.
O presidente francês se aproximou, assim, da posição da chanceler alemã, Angela Merkel, que em setembro mostrou-se favorável a uma suspensão do processo de negociação com a Turquia.
Este processo está congelado de fato há vários anos e Erdogan lembra que 16 capítulos das negociações, de um total de 35, foram abertos e nunca fechados.
Acredito que a União Euripeia nem sempre agiu bem com a Turquia porque a fez pensar que as coisas eram possíveis, quando na realidade não eram totalmente, admitiu Macron.
– Estado de direito –
Esta foi a visita mais importante do presidente turco a um país da União Europeia (UE) desde o golpe de Estado frustrado de julho de 2016 e da repressão que se seguiu.
Mais de 140.000 pessoas foram destituídas e suspensas e mais de 55.000, detidas, entre elas universitários, jornalistas e militantes pró-curdos, acusados de fazer propaganda terrorista ou de conivência com as redes do clérigo Fethullah Gülen.
Macron pediu ao seu convidado para respeitar o Estado de direito e lhe entregou uma lista de casos individuais de pessoas turcas detidas, como o ativista e executivo de Istambul Osman Kavala.
Associações de defesa dos direitos humanos haviam pedido a Macron que se mostrasse firme, já que as prisões turcas estão cheias de jornalistas que só fizeram seu trabalho, segundo Christophe Deloire, secretário-geral da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF). Ele denunciou um silêncio absoluto no país, que ocupa a posição 155 entre 180 no ranking mundial da liberdade de imprensa, com dezenas de jornalistas detidos e mais de 150 veículos de comunicação fechados.
Mas Erdogan defendeu a independência da Justiça turca e a lançou contra os jardineiros do terrorismo (…), homens considerados de pensamento ou ideias mas que levam água ao moinho dos extremistas.
Também respondeu duramente a um jornalista francês que lhe perguntou sobre a suposta entrega de armas de Ancara ao grupo extremista Estado Islâmico em 2014. Você fala com as palavras da FETO [a organização terrorista de partidários de Fetullah], não como jornalista, respondeu, furioso.
Os dois dirigentes falaram também sobre a Síria, um tema sobre o qual têm pontos em comum e outros divergentes, como o processo de Astana e de Sochi, dirigidos por Rússia, Irã e Turquia.
Emmanuel Macron critica com frequência estas iniciativas, que não permitirão a paz porque estão atravessadas pelo plano político, sem deixar espaço suficiente para a oposição ao regime de Bashar al Assad.
No entanto, os dois dirigentes mostraram a intenção de encontrar uma solução política para a crise no país em guerra, com o anúncio da realização de uma reunião de ministros das Relações Exteriores em fevereiro na Turquia.
No campo bilateral, Erdogan expressou o desejo de que os intercâmbios comerciais se elevem a 20 bilhões de dólares frente aos 13,4 bilhões de dólares atuais. França e Turquia, ambas membros da Otan, assinaram um contrato de estudo em defesa aérea e antimísseis, que envolve o consórcio franco-italiano Eurosam.
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