No mundo todo, nesta quarta-feira (10), choveram críticas à defesa feita por um grupo de cerca de cem mulheres, entre elas a atriz Catherine Deneuve, ao direito dos homens de importunar, de integrantes do governo francês a internautas indignados.
Há elementos profundamente chocantes, inclusive falsos nesta manifestação divulgada na véspera no jornal francês Le Monde, disse a secretária de Estado para a Igualdade, Marlene Schiappa, julgando perigoso o texto minimizar os abusos sexuais.
O estupro é um crime. Mas cortejar de forma insistente ou repulsiva não é um delito, nem a cortesia uma agressão machista, escreveram as atrizes, escritoras, pesquisadoras e jornalistas.
O texto defende uma liberdade de importunar, indispensável à liberdade sexual e denuncia uma volta ao puritanismo como uma das consequências do escândalo do produtor de cinema americano Harvey Weinstein.
Com este escândalo, nasceram campanhas como #MeToo e #Balancetonporc (Delate teu porco), na França, nas quais milhares de mulheres denunciaram terem sido vítimas de assédio ou abuso sexual.
Contudo, para esse coletivo, essa febre de enviar os porcos ao matadouro, longe de ajudar as mulheres a serem autônomas, serve na realidade aos interesses dos inimigos da liberdade sexual, aos extremistas religiosos, aos piores reacionários.
Elas também afirmam que uma mulher não tem por quê se sentir traumatizada para sempre por um homem que se esfrega contra ela no metrô, apesar disso ser considerado um crime.
Já é trabalhoso fazer as jovens entenderem que se esfregarem contra elas, esfregar o sexo de um homem contra uma mulher no metrô sem seu consentimento é uma agressão sexual, lamentou Schiappa.
Fora da França, essa postura foi duramente criticada. Deneuve e outras mulheres francesas explicaram ao mundo como a interiorização de sua misoginia lhes lobotomizou a um ponto sem volta, tuitou a atriz italiana Asia Argento, que foi uma das primeiras a acusar de abuso sexual Harvey Weinstein.
– Desprezo pelas vítimas –
A ex-ministra francesa de Direitos das Mulheres Laurece Rossignol classificou o posicionamento como um tapa contra todas as mulheres que denunciam a depredação sexual.
Um artigo em resposta por um grupo de feministas denunciou por sua vez o desprezo pelas vítimas de violência sexual.
Cada vez que se avança para a igualdade, apesar de meio centímetro que seja, há almas boas que imediatamente alertam que podemos cair no excesso, afirmam as signatárias de um texto postado no site francetvinfo.
Para elas, as mulheres que assinaram o texto publicado no Le Monde, misturam deliberadamente uma relação de sedução baseada no respeito e prazer com a violência.
Que pena que nossa grande Catherine Deneuve se some a um texto tão deplorável, tuitou a ex-ministra de Meio Ambiente, Segolène Royal.
A escritora australiana Van Badham denunciou em artigo para o jornal britânico The Guardian que Deneuve e suas amigas se alinham, com sua carta, aos [Woody] Allen, Weinstein e outros homens acusados de abusos.
Muitos internautas criticaram o texto. Proponho que Deneuve comece a pegar o metrô na hora do rush, provou um deles.
Catherine Deneuve talvez tivesse uma opinião muito diferente sobre o abuso se não fosse uma mulher branca, extraordinariamente bela e muito rica, que vive em uma bolha de privilégios. E se tivesse um pouco de empatia, tuitou a cartunista do New York Times, Colleen Doran.
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