Uma equipe de cientistas da China clonou recentemente dois primatas geneticamente idênticos pela primeira vez com o mesmo método utilizado para criar a ovelha Dolly em 1996, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira na revista especializada Cell.
Os primatas, dois macacos-cinomolgos, foram criados através de uma transferência nuclear de células somáticas, ou seja, a partir de células do tecido de um macaco adulto, em um procedimento feito no Instituto de Neurociência da Academia Chinesa de Ciências em Xangai.
Assim, há oito semanas uma macaca-cinomolga deu à luz a um clone, criado a partir de células de tecido, a mesma técnica usada com a famosa ovelha Dolly.
Dez dias mais tarde nasceu o segundo macaco, idêntico ao primeiro, no mesmo centro.
Os dois clones, chamados
Macacos são clonados com mesma técnica de ovelha
Reprodução
estão vivos e saudáveis, afirmaram ontem em uma entrevista telefônica os cientistas chineses.
A principal razão para clonar esses primatas é porque eles são muito próximos dos humanos evolutivamente e podem ajudar nos trabalhos de pesquisa de doenças cerebrais, câncer e transtornos metabólicos, explicou o neurobiólogo Mu-ming Poo, da equipe científica de clonagem.
Ao ser questionado se sua equipe estaria interessada em aplicar esta técnica para clonar humanos, o pesquisador descartou a ideia e assegurou que não tem intenção de fazê-lo.
Graças a este avanço, agora é possível criar populações de cobaias de macacos idênticos e personalizados, que segundo Mu-ming Poo e seus colegas, reduziriam a quantidade de primatas utilizados nos experimentos de laboratório.
Nas últimas duas décadas, cientistas de todo o mundo tentaram clonar primatas não humanos, mas sem sucesso.
De fato, no final da década de 1990, os cientistas criaram um gêmeo de macaco artificialmente, Tetra, dividindo um embrião, um processo que não pode ser usado para clonar animais adultos e que não pode ser repetido para criar cópias clonadas idênticas.
No caso da clonagem através da transferência nuclear de células somáticas, os cientistas retiram o núcleo de um óvulo e inserem um núcleo de célula do indivíduo que querem clonar.
O resultado é um embrião com material genético idêntico à célula do doador e é uma técnica que possibilita produzir numerosos animais exatamente iguais.
Este é um procedimento muito difícil e delicado, assegurou Mu-ming Poo, que passou três anos aperfeiçoando esta transferência de núcleo com seus colegas.
Durante a pesquisa, os cientistas transferiram 181 embriões que continham núcleos de células doadoras adultas para mães de aluguel, mas a gravidez só ocorreu em 22 casos.
Dois primatas chegaram a nascer por cesárea, mas faleceram, provavelmente por insuficiência respiratória, em 30 horas.
Em relação aos clones originados no tecido fetal, 79 embriões produziram seis gestações, das quais somente nasceram Zhong Zhong e Hua Hua.
(O método) ainda é muito ineficiente nesta espécie e há muito progresso a fazer, reconheceu o pesquisador chinês.
Os cientistas planejam continuar melhorando a técnica, que também se beneficiará do trabalho futuro em outros laboratórios, e monitorar o desenvolvimento físico e intelectual de Zhong Zhong e Hua Hua.
Atualmente, os filhotes se alimentam com mamadeira e estão crescendo normalmente em comparação com os macacos de sua idade.
Temos consciência de que pesquisas futuras com primatas não humanos em todo o mundo dependem de cientistas que adotem padrões éticos muito rigorosos, concluiu Mu-ming Poo. EFE
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