Há um fenômeno na eleição deste ano na disputa pelo governo de Goiás, a julgar pelas pesquisas divulgas neste fim de semana, pela Consultoria Signates/Rádio Sagres 730 (aqui) e pelo Serpes/O Popular (aqui). Historicamente essas duas forças políticas tinham, juntas, mais de 50% dos votos nesta época de campanha. Neste 2018, essas forças só conseguiram abocanhar, até o momento, 19% dos votos dos goianos. Refiro-me ao MDB e a base aliada governista, que comanda o Estado desde 1998. O retorno aos números da pesquisa Serpes nas eleições anteriores ajuda a identificar esse fenômeno.
Em 2006, o então candidato Alcides Rodrigues, que disputava a reeleição para governador e representava a base aliada na eleição, tinha em setembro, 28,8% das intenções de votos. O ex-governador Maguito Vilela, representando o MDB, estava com 45,4%. Somavam 74% das intenções de voto de acordo com pesquisa Serpes/O Popular divulgada em 11 de setembro de 2006.
Em 2010 e em 2014, Iris Rezende e Marconi Perillo disputaram pelo MDB e pela base aliada. Na primeira eleição, Marconi chegou na pesquisa do mesmo instituto, divulgada em 28 de agosto, com 49,2% e Iris, com 33,1% (juntos 82,3%). Em 31 de agosto de 2014, Marconi estava com 39,2% e Iris, com 24,2% (somados, 63,4%). Nessas duas eleições, Vanderlan Cardoso, que disputou por um racha na base aliada, marcou 7,8% (28/08/10) e 8,7% (31/08/14).
O fenômeno deste ano é que José Éliton, com 10,9% e Daniel Vilela, com 8,6%, (soma de 19,5%) não conseguiram atrair até o momento os eleitores tradicionalmente fiéis ao governo e ao MDB (veja pesquisa na tabela acima). E onde estão seus eleitores? A julgar pelas pesquisas atuais, estão no não voto (aqueles que votam nulo, branco ou estão indecisos) ou com Ronaldo Caiado (DEM). Em 2010, nesta mesma época do ano, o não voto somava 9,4%. Em 2014, os eleitores do não voto eram 21,1% e agora chegam aos inéditos 32%.
A terceira via, uma alternativa entre as duas forças políticas majoritárias, nunca conseguiu sucesso eleitoral em Goiás. Ronaldo Caiado não é a terceira via, pois ele reúne partidos e lideranças que saíram dos dois lados. Mas o fato é que até o momento ele conseguiu tirar votos dos dois grupos hegemônicos. A desidratação dos governistas e dos emedebistas explicam, em parte, os atuais índices de Caiado, de 42,3% das intenções de voto. O restante está no não voto.
Caiado tem atualmente 62,1% dos votos válidos e poderia vencer no primeiro turno. Entretanto, não é possível cravar que ele manterá esse índice até o dia da eleição, pois boa parte dos eleitores só define mesmo em quem votará na última semana da campanha. Para mudar o fenômeno atual, os adversários de Caiado (que hoje somam apenas 25,8% dos votos válidos) têm de conquistar, ao menos, 12 pontos porcentuais nesta reta final da campanha.
Numericamente falando não é uma meta ousada. O problema é que as chamadas máquinas do governo e do MDB não se mobilizaram até o momento. Parte considerável dos emedebistas está reclusa (caso de Iris Rezende em Goiânia que praticamente não fez campanha para Daniel) ou aderiu a Caiado.
Já a máquina de governo movimenta-se com trabalho dos ocupantes de cargos comissionados, que parecem sem ânimo para defender José Éliton, ou com muito dinheiro na campanha, que escasseou nesta eleição em que é proibida a doação de empresas privadas e com limites de gastos na campanha definidos pela Justiça Eleitoral. Em resumo, o esforço político dos apoiadores de Éliton e de Daniel terá de ser bem maior ao que foi até o momento, para que tenham condições de bater a meta numérica para levar a eleição ao segundo turno.
Ninguém mais que o ex-governador Marconi Perillo simboliza a dificuldade da base aliada. Pelo seu nível de conhecimento, pelas realizações de seus quatro governos e por sua liderança política nestes 20 anos, ele devia despontar como candidato natural ao Senado em Goiás, como ocorreu em 2006. No entanto, disputa voto a voto com Jorge Kajuru (PRP) e a senadora Lúcia Vânia (PSB).
A pesquisa Serpes mostra Marconi líder na disputa pelo primeiro voto (23%), mas apenas em terceiro lugar pelo segundo voto, atrás de Lúcia (15,4%) e de Vanderlan Cardoso (11,9%). Marconi tem apenas 8,4% no segundo voto. Isso quer dizer que, a menos de um mês da eleição, não é possível cravar ele será um dos dois senadores eleitos. Marconi terá de trabalhar muito para ampliar sua votação no primeiro voto e, para usar o slogan da chapa governista, “avançar ainda mais” no segundo, para não correr o risco de viver a mesma experiência de Iris Rezende em 2002, que perdeu a eleição.
Cileide Alves
Jornalista
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