Bach, Händel, Villa Lobos, Zequinha de Abreu… para crianças. Está enganado quem pensa que música clássica deve ser voltada para adultos e eruditos. Muito pelo contrário. Essa é a ideia do músico Tim Rescala, de 58 anos, criador e apresentador do programa Blim-Blem-Blom, no ar há nove anos na Rádio MEC (99,3 MHz). Uma novidade deste sábado (1º), às 12h, é que ele e a jovem musicista Betina Fonseca, de apenas 12 anos de idade, apresentarão a atração ao vivo, direto da Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, com o projeto Sala Digital (com transmissão na rádio e via streaming). “Eu sempre tive vontade de fazer ao vivo. Nós estávamos nos programando para março, mas a pandemia adiou. A partir de agora, faremos isso uma vez por mês”.
Nesta edição do próximo sábado, o programa Blim-Blem-Blom recebe os músicos da família Santoro: Ricardo e Paulo (violoncelos), Sandrino (contrabaixo), Marcela (violino), Pedro (violino) e Ana Letícia Barros (percussão). A apresentação na Sala Cecília Meireles, ao vivo, por enquanto, é sem público. “Em momentos como esse tão delicados, a gente observa como a música é companheira. E, claro, desde a infância é necessário que uma criança veja a outra tocando. Não é uma obrigação que se tornem músicos no futuro, mas que sejam musicalizadas”. O instrumento pode, por exemplo, na visão do músico, ajudar a tirar as crianças do contato exclusivo com celulares e jogos para se interessarem por música. Assim ocorreu na casa de Rescala. A filha caçula Luiza, de 12 anos, estuda piano. A mais velha, Isabela, de 24, também é pianista.
A influência pelo instrumento também inspirou Betina Fonseca, de 12 anos, que apresenta o programa com o experiente músico. Betina, que estuda violoncelo e flauta, faz parte, desde os cinco anos de idade, do projeto Bem-Me-Quer Paquetá, da organização não-governamental Casa de Artes, na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro. “Ela tem muito talento e é curiosa”, diz Tim Rescala.
Betina está ansiosa pela apresentação. A menina sabe que inspira outras crianças a tocarem algum instrumento. “Muitas amigas passaram a tocar depois. Minha base é a música clássica, mas também gosto de pop, rock e MPB”. Entre as referências dela, o próprio Tim Rescala, Chico Buarque e também o maestro Anacleto de Medeiros (1866-1907), seu tio tataravô. Durante a pandemia, a garota está estudando música de forma virtual. A mãe, Cecília Fonseca, que é fotógrafa, sabe que a música tem sido fundamental para a formação educacional da filha.
“Ela sempre se interessou, desde muito criança”, testemunha. A diretora artística do projeto, em Paquetá, Josiane Kevorkian afirma que a iniciativa existe desde 2006, com inicialização musical desde bebês. “Sempre tivemos essa parceria com o Tim Rescala e com o Blim-Blem-Blom”, e isso também tem garantido visibilidade para o projeto social nas ondas da MEC.
Tim Rescala enfatiza que é grande a responsabilidade de promover música para crianças. Ele, que tem 58 anos de idade e é músico desde os 15, sabe que o programa de rádio tem uma missão importante de formação de novos públicos. Inclusive neste momento, em que as pessoas estão mais em casa. “No passado, ouvíamos o rádio em casa, com família e amigos. E depois passamos a sair para concertos e shows. Essa situação fez com que voltássemos para dentro de casa”.
Programação
O concerto de abertura, deste sábado, tem a presença da família Santoro, com a participação do Duo Santoro e do patriarca Sandrino Santoro. A primeira apresentação do ano é uma parceria entre o tradicional espaço cultural carioca e a emissora pública gerida pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A apresentação significa o retorno a música ao palco da Sala Cecília Meireles depois do período de ausência imposto pela pandemia de covid-19.
“É um fato importante, pois a Sala volta a cumprir sua missão e razão de existir que é promover e difundir a música de câmara de todos os períodos. Ao mesmo tempo, damos início a uma nova série denominada #SalaDigital em que os concertos serão transmitidos ao vivo através de nosso Canal do YouTube e mídias sociais”, afirma o diretor da sala, o maestro João Guilherme Ripper.
A programação retoma as linhas gerais da programação para o ano, o que inclui a homenagem aos 250 anos de Beethoven. “Em setembro teremos a integral das sonatas para violino e piano com os violinistas Emmanuele Baldini, Priscila Rato e Gabriela Queiroz acompanhados dos pianistas Erika Ribeiro, Aleyson Scopel e Lucas Tomasinho”. O diretor explica que, em outubro, Bach será o homenageado com concertos para cravo e concertos para dois violinos do compositor. Em novembro, haverá o ciclo das 32 sonatas para piano de Beethoven com nove pianistas brasileiros. “Em dezembro, teremos a “Canção da Terra” de Mahler, no arranjo para grupo de câmara de Arnold Schoenberg, com a Orquestra Bachiana Brasileira”.
Segurança
Para viabilizar as apresentações, os programas na Sala Cecília Meireles obedecerão a um protocolo de segurança sanitária, o que inclui o uso de máscaras em todas as dependências, distância de 1,5 metro entre os músicos de cordas e 2 metros entre os músicos de sopros, além da utilização de barreiras contra o aerossol e gotículas. Por enquanto, não haverá presença de publico. “Vamos acompanhar o desenvolvimento da pandemia no Rio de Janeiro. A ideia é termos nosso público de volta a partir de setembro ou outubro, utilizando parte da plateia a fim de respeitar o afastamento social. – Luiz Claudio Ferreira – Portal EBC – YWD 3908