Novas mobilizações pró-regime eram realizadas no Irã nesta quinta-feira (4), um dia após o governo declarar o fim da sedição, na esperança de concentrar as atenções nas demandas econômicas, o ponto de partida dos protestos.
Depois de vários dias de agitação, a capital Teerã e a maioria das cidades provincianas tiveram uma segunda noite tranquila. Agora, o poder quer centrar a atenção nas reivindicações econômicas dos manifestantes.
Em Teerã, foi mobilizado um importante dispositivo policial.
A imprensa e redes sociais não relataram distúrbios noturnos, embora imagens de mobilizações esporádicas em localidades menores tenham sido publicadas sem verificação.
Esta manhã, a televisão iraniana exibiu imagens de novas grandes manifestações em apoio ao governo nas cidades de Isfahan (centro), Mashhad (nordeste), Orumieh (noroeste), Babol e Ardebil (norte).
Estamos todos unidos com o guia, o aiatolá Ali Khamenei, entoavam esses manifestantes, de acordo com imagens da televisão estatal.
Os manifestantes também gritavam morte à América, morte a Israel e morte ao monafegh (hipócrita em persa), termo utilizado pelas autoridades para designar os Mudjahedines do Povo, principal grupo de oposição no exílio, proibido no Irã.
Já na quarta-feira, dezenas de milhares de pessoas se mobilizaram em vinte outras cidades provinciais para apoiar o poder e denunciar a violência dos protestos que se estenderam por uma semana.
As autoridades acusam grupos contra-revolucionários e os Mudjahedines do Povo de tirar proveito das manifestações legítimas da população contra as dificuldades econômicas para criar problemas.
De quinta a segunda-feira à noite, 21 pessoas morreram – a maioria manifestantes – e centenas foram presas, incluindo 450 em Teerã, segundo dados oficiais.
– Moscou adverte Washington –
O comandante em chefe do Exército, Abdolrahim Mussavi, agradeceu às forças de segurança que teriam apagado o fogo da insurreição.
O exército de elite iraniano, a Guarda Revolucionária, proclamou na quarta-feira o fim deste movimento de protesto. Iniciado em 28 de dezembro em Mashhad (nordeste), a segunda maior cidade do país, foi o maior movimento de contestação no país desde 2009, contra a reeleição do então presidente Mahmud Ahmadinejad.
Segundo o ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, 42.000 pessoas participaram das manifestações, muitas menos que as centenas de milhares que foram às ruas em 2009.
O Irã acusa os Mujahedines de estar vinculados à Arábia Saudita, rival regional de Teerã, à qual acusa, junto com os Estados Unidos, de atiçar os distúrbios ao apoiar as manifestações.
O embaixador iraniano na ONU, Gholamali Khoshroo, queixou-se ante o Conselho de Segurança das ingerências dos Estados Unidos em seus assuntos internos.
Desde o início da contestação, Donald Trump tem expressado apoio à causa dos manifestantes e condenado o regime.
Os Estados Unidos pediram formalmente uma reunião de emergência ao Conselho de Segurança da ONU, que será celebrada na sexta-feira às 15h locais (18h de Brasília), anunciou a missão do Cazaquistão, que preside o colegiado.
A reunião se realizaria na sexta-feira às 20H00 GMT (18h de Brasília), mas deve ser confirmada pela presidência do Conselho, exercida este mês pelo Cazaquistão.
Condenamos nos termos mais fortes possíveis as mortes até hoje e as detenções de pelo menos mil iranianos, disse a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.
Esses mortos não serão esquecidos, acrescentou a porta-voz.
Posteriormente, o Departamento do Tesouro informou sobre novas sanções contra o regime iraniano, concretamente contra cinco empresas vinculadas ao programa balístico.
A Rússia, aliada do Irã, advertiu Washington contra qualquer intervenção nos assuntos internos de seu amigo.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, se expressou no mesmo sentido.
Alguns do exterior provocaram a situação e estas provocações não são corretas, declarou Erdogan à emissora francesa TF1 em Estambul. É um assunto interno do Irã […] Não devem se meter em assuntos internos dos países, devem deixá-los solucionar seus problemas internos, acrescentou.
– Problemas econômicos –
A classe política no Irã – reformistas e conservadores – se posicionou contra a violência, enfatizando a necessidade de encontrar uma solução para os problemas econômicos, principalmente o desemprego, que atinge 30% dos jovens.
Embora as queixas econômicas tenham contribuído amplamente para esses movimento de protesto, as reivindicações políticas não tardaram a surgir.
A principal demanda das pessoas às autoridades e ao governo é que resolvem os problemas econômicos, apontou na quarta-feira Ali Akbar Velayati, conselheiro do guia supremo para assuntos internacionais, citado pela agência Isna.
Reeleito em maio passado, o reformista Hassan Rohani prometeu, logo que se tornou presidente em 2013 trabalhar para melhorar a situação econômica e social, uma esperança alimentada pelo acordo nuclear assinado em 2015 e a suspensão de algumas sanções internacionais contra Teerã.
Mas o encarecimento do custo de vida e o desemprego não pararam de alimentar as frustrações.
O Parlamento, que revisa o orçamento para o próximo ano fiscal (março de 2018 a março de 2019), já rejeitou os aumentos de impostos que o governo queria adotar, incluindo um aumento de 50% no preço da gasolina. – BRASIL EM FOLHAS COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS – I3D 46290