Emmanuel Macron, presidente da França, e Jair Bolsonaro entraram em conflito público nos últimos dias, trocando acusações e ofensas que colocaram em pauta o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, a soberania do Brasil sobre a Amazônia e até as aparências físicas das primeiras-damas francesa e brasileira.
Membros do corpo diplomático brasileiro vêm fazendo contatos para amenizar o impacto internacional do conflito. Além disso, o embaixador do Brasil em Paris, Luís Fernando Serra, foi à TV francesa para esclarecer os dados sobre desmatamento e queimadas na Amazônia, destacando que, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, os números eram muito piores.
Apesar de toda a questão diplomática que envolve o conflito e de seu alcance internacional, o foco principal de Macron ao entrar em choque com Bolsonaro pode não ser a Amazônia, mas o eleitorado francês. Segundo Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a ruptura com Bolsonaro agrada dois espectros antagônicos da população francesa: os agricultores e os ambientalistas.
Com o pacto comercial que está sendo negociado entre UE e Mercosul, o potencial aumento da concorrência de produtos agrícolas brasileiros com os franceses é visto como uma ameaça por agricultores locais. “As manifestações recentes contra ele vieram do campo. Os agricultores franceses, que têm muito medo do acordo com o Mercosul, sentem-se contemplados [com a não-assinatura do acordo]”, diz Stuenkel.
Ao mesmo tempo, o presidente francês pode melhorar suas credenciais com os ambientalistas do país. “O Macron tem feito pouco nesse âmbito. Isso ajuda a ganhar apoio com o movimento verde francês, que é cético em relação a ele”, afirma o professor.
Macron também pode capitalizar com a imagem negativa do presidente brasileiro entre os franceses, especialmente depois que Bolsonaro fez uma piada em um comentário de rede social sobre a aparência de Brigitte Macron, primeira-dama francesa. “Bolsonaro é extremamente impopular na França. Falou mal da primeira-dama, que é muito popular. Atacar o Bolsonaro é popular entre os franceses”, diz Stuenkel.
Fonte: msn.com.br ( Leonardo Desideri)
Foto: © Charles Platiau e Mauro Pimentel/AFP